sábado, abril 08, 2017

Carta aberta - Mea Culpa

Venho por meio desta comunicar a quem interessar possa (quase ninguém, mas ainda assim) que estou assumindo ter sido uma pessoa preconceituosa.
Baseado em pouquíssimas conversas com dois amigos, alguns filmes e outras referências (principalmente Mel Brooks), acreditei que meu entendimento do povo judeu se aproximava da realidade. Acreditei que se tratava de um povo que, após um duro aprendizado de mais de cinco mil anos, com uma impressionante tradição oral e escrita, ao redor de todo o planeta, tenha aprendido e repassado aos seus descendentes uma valorização da paz, justiça e igualdade.
Acreditei que, no seio de uma família judia, corriam valores como o estudo da história, a tradição, o conhecimento e a retórica necessária para jamais, em lugar algum do planeta, o Povo Escolhido apoiar por acidente medidas facínoras e desprovidas de embasamento, em troca de uma solução mágica dos complexos problemas sociais.
Eu estava errado.
Eu estava completamente errado.
E eu sinto muito.
Bolsonaro palestrou dentro da Hebraica para trezentos ouvintes, aqui no Rio de Janeiro, e foi aplaudido. Apoiou o fim das ONGs, das reservas indígenas, dos quilombos, e foi aplaudido. Apoiou a exploração de alegadas riquezas por todo o território nacional e foi aplaudido de novo. Fez piadas racistas, desumanizou quilombolas, e um comentário desses, tão perto de "judeu não é gente" numa Alemanha de sessenta anos atrás, provocou gargalhadas da platéia.
Descendentes de um povo que era exterminado, massacrado, mutilado e tratado como menos que gado, divertiu-se ouvindo "o afrodescendente mais leve pesava sete arrobas, não servia nem pra reproduzir mais", em duas claras referências a gado na mesma frase.
E pensar que minha desinformada admiração me fez passar meses de figuração na Record pedindo pra fazer hebreu.
Desculpem-me, por favor. Eu estava sendo preconceituoso, e é um erro que não pretendo cometer novamente.

quarta-feira, abril 05, 2017

Julgamento e opinião

Eu tenho comigo a necessidade de manifestar minha opinião. Dar aos meus amigos e conhecidos uma direção de como funciona minha moralidade e meus costumes.
Fora o que andaram dizendo da expressão, acredito que é assim que uma pessoa factualmente de bem atua: ele se manifesta contra o que está errado, ele aplaude o correto, e no meio do caminho, trabalha.
Cabe, junto com minha opinião, explicar: afinal, no dia que eu justificar um argumento meu com "meu amiguinho imaginário é melhor que o seu", por exemplo, os meus amigos e colegas saberão que eu não estou bem, e podem tomar suas devidas precauções a meu respeito.
Isso não quer dizer que me tornei juiz da atitude dos outros. Nestes casos, me manifesto apenas pelo exemplo social que eles contém. Vejamos alguns exemplos:
  • Cissa Guimarães

Em primeiro lugar, não desejo a dor de perder um filho a mãe alguma neste mundo. É triste, muito triste mesmo, e não estou fazendo pouco disto.Isto posto, todo o resto do caso em que morreu o filho dela é um afronta. Como a informação é muito complexa e aninhada, eu prefiro aqui citar como os jornalistas profissionais relatam:

  • Rafael Mascarenhas foi atropelado em julho de 2010, no Túnel Acústico, no bairro da Gávea, na Zona Sul do Rio de Janeiro, enquanto andava de skate com amigos. A via - que hoje possui o nome do filho de Cissa Guimarães - estava fechada ao trânsito, mas foi invadida por motoristas que praticavam corridas ilegais, conhecidas como "pegas" ou "rachas". No grupo, estava Rafael Bussamra, que conduzia o carro que acertou o filho de Cissa Guimarães.
    O laudo do carro de Rafael Bussamra mostra que o veículo estava a cerca de 100 km/h no momento do acidente, quando a velocidade máxima permitida no túnel é de 70 km/h. Segundo a perícia, Rafael Mascerenhas foi arremessado a 50 metros do local do atropelamento.
    Dois policiais militares, Marcelo de Souza Bigon e Marcelo José Leal Martins, cobraram R$ 10 mil de Rafael Bussamra para liberá-lo após constatarem o carro com avarias. O rapaz chamou, então, o pai, Roberto Bussamra, que negociou com os PMs. Por causa do ocorrido, os agentes responderam a um Inquérito Policial Militar e foram expulsos da corporação em 2010.
    Esta informação foi tirada de uma manchete do site EGO
    O aninhamento ao qual me referi é o seguinte: R. Mascarenhas não devia estar num túnel fechado para reformas, mas estava; R. Bussamra também não, mas estava, e ainda praticando pega; os policiais que viram o carro após o atropelamento deviam prestar diligência, mas não prestaram; Bussamra pai devia deixar o filho ir preso, mas não deixou.
    Até aqui, a cadeia de eventos torna todos os envolvidos em péssimos exemplos para a nossa sociedade. Fica pior ainda ao sabermos que ninguém foi preso, e nem mesmo será, mas isso já esperamos da nossa justiça.
    Além de todos esses erros, o que mais me incomoda é a Cissa Guimarães.
    Como eu tenho notado recentemente, as pessoas perdem a memória muito rápido, então permita que eu me repita: não desejo a dor de mãe que ela está sentindo a nenhuma mãe do mundo.
    Causa-me profundo incômodo que ela tenha ganho tanto espaço na mídia para a dor dela. Que tenha ganho tantos minutos em tantos dias para cobrir um caso que está encerrado desde o primeiro dia. E digo isto, porque vejo várias vezes as pessoas com um sorriso cínico quando uma outra mãe, desconhecida, de nível econômico ou social diferente, tenta em cinco segundos pedir que investiguem o que fizeram com o filho dela. Porque, claro, aquele filho é automaticamente um bandido.
    É uma injustiça, uma desigualdade desnecessária, dar todo o tempo do mundo para a dor da Cissa e calar toda uma camada social que nem pode enterrar o próprio filho. A sua vontade de ir lá e destruir tudo, matar cada um porque se for da favela tem que ser bandido, não é tratar com igualdade as pessoas. Isso só planta ressentimento, e ninguém fica com a razão.
    • José Mayer

      Muito fácil de resumir: ele assediou uma maquiadora, colega de trabalho. Ela botou a boca no trombone. A coisa ficou difícil de abafar e ele assumiu o próprio erro.
      Viu? Muito simples. Acho que ele deve ser julgado e pagar pelo que fez. Ao assumir o ato de assédio, ele abriu a possibilidade de que isto aconteça.
      A única coisa que me incomoda nessa história é a hashtag: #JoséMayerVelhoNojento. Qual a razão das pessoas em combater um preconceito com outro? Acrescenta em quê chamar o assediador de "velho"?

    Entendam, estou aqui apenas analisando situações de relevo social. Não cabe a mim julgar o sr. José Mayer, a sra. Cissa Guimarães, ou quem quer que seja. Mas me cabe, sim, emitir opinião sobre estes eventos, sabendo que tornar-se-ão precedente para outros, sabendo que pesarão no entendimento dos valores sociais como um todo.
    Há algo de errado com uma sociedade movida a gestos furiosos e bordões. Cabe a pessoas que se considerem capazes de colaborar, dar seu entendimento. E aqui estou, tentando colaborar.
  • Mulan, o curta

    Uma vez a gente ficou imaginando que desenho da Disney nos representava. Eu disse que ela com certeza era a Bela, porque adorava ler, ad...