Foram três dias de banho na base da esponja, usando cuecas. Mas hoje, eu tinha que reagir. Era banho de chuveiro ou nada. Afinal, hoje eu estava liberado para pequenas caminhadas. Não que eu esteja querendo, aqui, valorizar uma cirurgia tão elementar, mas é que foram dezenas de pontos numa região no meio das pernas, então realmente não convinha repuxar nem um pouquinho com alegres caminhadas. Especialmente eu, que já sabia de outros acidentes que cicatrizava com quelóides expressivas e fartas, meu joelho que o diga.
Dona Patranha me olhou, antes que eu entrasse no banho, e com aquele radar infalível, materno, fulminou:
– Você vai visitar a Ariana, né?
A minha perplexidade respondeu a ela melhor que palavras, pois ela se afastou com o seu registrado "ai, meudeush" de tantas vezes que me julgava à beira de um precipício. E, claro, foi preparar o remédio para todas as ocasiões: comida.
Entrei no banheiro, tirei a roupa e o curativo, e fui pro chuveiro.
A água foi descendo pelo meu peito, escorrendo normalmente, mas para mim em câmera lenta, até que passou do umbigo, cruzou a pelve, e moldou meu membro em recuperação numa escultura corrente, a dor fazendo mais parte da minha imaginação do que da realidade.
Deixei a atenção nele um pouco de lado, e realmente tomei banho, sabonete na pele, água... Até que uma sensação lancinante apareceu, quando a espuma começou a percorrer todos aqueles pequenos buraquinhos de ponto, e o corte. Para meu pavor, a água descia vermelha.
Naquele momento, uma leve náusea tomou conta de mim. Eu valorizava bastante o que estava em jogo, entendam. Com o perigo aparente, a dor parou, e uma capacidade analítica surgiu acima do suave embotamento do antiinflamatório. Um Osvaldo muito calmo, dentro de mim, notava que a água descia colorida, sim, mas de um tom alaranjado. Portanto, estávamos falando de uma diluição de povidine, e pensando bem, talvez um pouco do sangue pisado também estivesse descendo com a espuma. Não precisa ter pânico. Era a caixa, testando o príncipe, para que ele se tornasse o Muad'Dib um dia.
Juntei as mãos e fiz uma concha embaixo dele, deixando apenas a água limpa envolver. É, era o povidine mesmo, que besteira a minha. Sujeito mais apavorado. E naquele momento pude encarar a situação.
Eu imagino que seja algo meio tolo, a essas alturas do campeonato descrever um pênis, mas pode ser que uma ou outra pessoa ainda não tenha visto um, ou faça muito tempo desde o último, então vou fazer um pequeno esforço, para ajudar a descrever o que vi.
Imagine que alguém tenha feito um Darth Vader de carne e forrado com pele na parte que teria a capa. Imagine que a capa na verdade está fechada, do pescoço pra baixo. Vire este boneco de costas para você, e temos uma descrição do que vi entre minhas mãos. Em miniatura, claro. Era a primeira vez na vida que via minha própria glande, antes sempre encoberta. No caso em questão, com a água fria, o medo, e uma natural desvantagem propiciada pela minha natureza genética, parecia uma criatura frágil e incapaz de sobreviver por muito tempo. Estava esbranquiçada, talvez pela recuperação, talvez pela posição inerte em termos de funcionamento.
Os pontos era parecidíssimos com uma coroa de espinhos, e não quis muito assunto com eles(embora tenha imaginado rapidamente alguém decapitando o Darth Vader e costurando o pescoço dele de volta com arame farpado). Mas me lembrei que o bom doutor mencionara uma certa área de cabresto, abaixo da glande, e passei um dedo sobre ela. A água escapou da concha, e a resposta que meus nervos deram foi alucinante. Percorria todo meu corpo! Aquele pequeno conjunto de nervos, tão perto da costura que na verdade tinham até mesmo um ponto sob eles, me faziam reflexos da ponta dos dedos do pé até a nuca!
Meu rosto ficou quente. Ansiava explorar aquele contato, aquele terminal que mexia com toda uma fiação dentro de mim, e nesse microssegundo entre a experiência e suas possibilidades em minha mente, alguma válvula se abriu, e um pouco de sangue começou a ser injetado onde não devia.
Ainda atônito, comecei a sentir ali a força da costura dos pontos, apertando a carne como um aviso. Olhei pra cima imediatamente, e comecei a imaginar cenas terríveis de acidentes, carnificina... Lembrei da minha visita ao IML, o corpo diante de mim, e ainda não sentia o sangue parar de ser bombeado. Carne morta virava rapidamente carne viva na minha imaginação, o instinto urgente de dentro de todo animal neste mundo gritando para ser realizado, a vontade de obedecer à natureza ignorando detalhes da situação.
Vi dentro da minha mente, o lado bicho. Ele queria se realizar. Queria acontecer. Porque a demora? Porque imagens de simples caça? Reproduza! Exerça! E então pude dar a ele a imagem certa: me imaginei diante de uma mulher, anos no futuro, exibindo um pau terminando em nada, e imaginei essa mulher reagindo com risos. Imaginei outra reagindo com medo. Imaginei várias, todas e cada uma nos rejeitando, infinitamente. E finalmente consegui convencer a besta a recuar.
Suava frio. Terminei meu banho, me enxuguei com cuidado e escolhi uma calça e uma camisa pólo. Antes até de ver Ariana, queria ver as ruas do Centro do Rio. Me sentir livre, ainda que um pouquinho só. E o resto que se ajeitasse, vamos ver.
segunda-feira, fevereiro 22, 2010
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2 comentários:
todo quinto cap, adriana in loco
sua matematica esta previsivel
pensei aqui numa variante
um conto sobre minha unha encravada rsrsrsrsrs
outra coisa e observar a enorme diferença entre nossos metodos
faz anos que edito e re-edito meus textos a exaustao
enquanto vc nem precisa disso
po, muito obrigado, se parece a você que eu não reedito meus textos.
Mas acontece que eles ficam na minha cabeça, remexendo... remexendo... e só saem prontos. A maioria das minhas idéias se perdem; algumas, ficam por muitos anos lá, rodando.
Descobri que só sendo biográfico eu consigo a consistência necessária. Quem sabe, se nesse exercício de sair soltando o tema...
Pra te dar uma idéia, eram pra ser DOIS posts. Eu te falei isso. Um com o Batismo/Batizado, e outro com a Revanche. Só. E olha onde estamos...
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