segunda-feira, dezembro 14, 2015

Saldão de final de ano trabalhado 2015

Eu tenho a satisfação de trabalhar com gente correta na figuração. Cofibra, Natália, Lua Cheia, Karmaya, Pool, Phoenix são empresas nas quais me cadastrei e não me lembro de ter me aborrecido com eles. Exceto, claro, na hora que insistem em pedir uma "foto impressa" em pleno 2015.
Tem outras agências, de um patamar mais elaborado. Elas trabalham com figuração também, mas principalmente elenco para filmes e comerciais. Ainda não tive a satisfação de realizar nenhum trabalho com agências desse naipe, exceto Giselle Favoreto, ainda que com ela tenha feito apenas uma figuração, já tivemos diversas oportunidades de conversar sobre trabalho, participar de testes e quetais. É uma profissional de se bater palmas. Categoria de trabalho apenas, não. É uma pessoa boa de se lidar.
Sim, pessoal, eu sou ator. Além disso, voltei recentemente a programar meu tiquinho de conhecimento para recriar meu próprio site, quem sabe voltar a vender meus serviços caso haja interesses. E não tenho vergonha nenhuma de ser figurante enquanto espero minha chance. Não tenho padrinho ou madrinha, se não ficar metendo a cara no meio, vou morrer de fome em casa. Não consigo me imaginar cavando uma oportunidade sendo vendedor de loja. Tem que ser pela figuração, e não vejo problema nisso.
Aliás, meus agradecimentos aos vários amigos que fiz por lá. Gente que nem eu, que não descende de nenhuma linhagem artística e procura com muita fé, não necessariamente na Globo, mas nas diversas oportunidades que a comunicação boca a boca nos fornece. Haha, se eu tentasse sobreviver assim na dublagem estava ferrado. Lá não basta ser apadrinhado, tem que ter laço sanguíneo. Mas é assim mesmo, eles tem tão pouquinho trabalho, tadinhos.

Agora gente, eu quero avisar que estou me controlando, com muita paciência, para não começar a correr atrás dos picaretas do ramo. Não é uma ameaça. É que por enquanto, denunciar parasitas, correr com polícia, Secretaria da Fazenda, Receita Federal, desmanchar quadrilhinha que se aproveita da ingenuidade dos outros dá muito trabalho e não é serviço remunerado.
Então por equanto, eu informo que estou ignorando perfil falso, empresa de mentirinha, e essas sacanagens de cobrar R$ 30,00 por ANO pra "aceitar" um cadastro. Estou ignorando gente que trabalha mal, não sabe se comunicar. Estou ignorando o que a pesquisa de sites no Registro.Br, ferramenta WhoIs, me fala sobre os sites de vocês. Estou ignorando o resultado do backtracing de email, provando que um mesmo computador tem mais de dez contas de email.

A minha esposa é a única pessoa do mundo que eu conheço que diz ser feliz e ter razão ao mesmo tempo. Eu, e todo o resto das pessoas que eu conheço, tem que escolher. Por enquanto, estou escolhendo ser feliz, tenho tanta coisa boa na vida pra aproveitar...
Se um dia desses eu perder a paciência, e resolver estar certo, saibam que vocês pediram. Vocês, que acham que empreendedorismo é uma dieta nova. Que elencam a própria esposa em 60 figurações por mês. Que mandam a mesma redação de email picareta de dois serviços diferentes. Que não contratam contador na empresa.
Pra vocês, feliz ano novo, lindinhos. Vamos ver quantos.

quarta-feira, setembro 23, 2015

Portal

Eu passei a vida inteira sendo o guardião entre dois mundos. Os mundos mudaram com o tempo, mas eu mudei também.
Por algum tempo, eu fiz figuração e era apenas um figurante. Ok. Tô lá pra aprender. Tô lá pra somar meu nadica de nadinha, que seja às vezes nem ser filmado numa cena.
Mas uma coisa que aprendemos sobre nós é quando os outros são obrigados a dar uma opinião, qualquer que seja, sobre a gente. E eu rapidamente aprendi, quando um fiscal, maquiador, figurinista tem que perguntar "o que você vai ser hoje?", que na formulação de estúdio é ainda mais bacana, "o que você é?", que eu tenho que fazer uma pausa lenta e hesitante para responder. Ganho uma opinião na hora.
Não que eu não tenha reparado antes, claro, mas é engraçado desenvolver um método para ver que as pessoas levam mesmo tempo pra dar o chute delas. Porque na verdade eu não pareço ser, exatamente, nada.
O que é ótimo, eu sou um ator. Elas precisam ler meus maneirismos para ter ajuda.
Lembrei que eu já saí andando pela rua vestido de mago, e com meu gestual, um mendigo pediu bênção que de mago pra padre é mesmo um pulo. Já balbuciei em alemão e fui tratado como um automaticamente. Advogado que deu consultoria a sério num elevador. Já vendi foto fantasia apenas com mímica. Já fiz amigo meu ver coisa na escuridão que não estava lá, só pela minha narrativa.
Mas ultimamente uma coisa nova aconteceu. Com toda a gama de reações, boas e ruins, as pessoas ultimamente tem reparado outra coisa em mim.
Eu estou começando a parecer alguma coisa. Eu estou começando a me parecer comigo mesmo.
Parece que meu peito tá parindo uma estrela. Devagarzinho. E todo mundo consegue ver.
Longe de mim pensar, agora, se é isso aí mesmo, se eu vou chegar ao ponto de início da minha verdadeira jornada. Claro, né, que eu seja uma estrela, sonho com isso, quero muito e tô trabalhando que nem uma puta pra isso acontecer.
Mas tô bem feliz de perceber que agora eu sou dois mundos.

sexta-feira, julho 24, 2015

Doçura

Contra todas as expectativas, uma grande família se reunia na casa deles. Filhos não tiveram, mas o carinho agregou alguns parentes e aparentados ao longo do caminho, e uma inusitada fortuna atraiu outros ao longo do caminho. Dormiam na cama de casal, meio da noite que era, ela ainda pondo a mão sobre o coração dele. O mundo lá fora, girava.
Mas subitamente, ele abria os olhos, e uma lágrima brotou e escorreu. Não queria olhar para trás. Não queria interromper seu calor de aquecer o corpo dela. Depois de cinquenta anos, o primeiro mosquito picava a maçã de seu rosto.
E ele já sabia. Estava sozinho naquela cama, pela primeira vez.

domingo, janeiro 04, 2015

Atendimento Xamã - rescisão do cargo

Eu sempre quis, desde que entendi o que era, ser xamã. Curar as pessoas, vê-las crescendo, ajudar no delicado tropegar a humanidade a se tornar melhor do que é.
É engraçado eu falando nisso, porque quem me conhece sabe muito bem que sou uma pessoa carente, chego inclusive a ser chato. Tenho crises de ansiedade cada vez maiores. Tenho os meus problemas e meus diálogos internos viram, muitas vezes, brigas louquérrimas. Mas até onde eu sei, a maioria dos psicólogos também tem essas dificuldades, e por causa delas, são melhores no que fazem. O pior psicólogo que conheci tinha consultório em Ipanema, e problema interno nenhum. Julgava os seus pacientes e a família deles. Dirigia as consultas como o Shermann dirige o Zorra Total e isso não é cura. Nada contra o cara da Globo não, mas ele não está lá pra curar porra nenhuma, certo? Meu ponto é esse.

Outra coisa interessante, tem algumas profissões que são, abnegadamente, servis. Você pode imaginar um cabeleireiro bem de vida, mas não a tal ponto que tenha um palácio. Um diretor de tv que tenha menos que um carro e um imóvel na Zona Sul do Rio, ou seu equivalente em outros estados, não faz sentido. São conceitos que a nossa sociedade nos oferece. Danili Gentilli, de quem não tenho tanta simpatia assim, outro dia desses lascou uma verdade na cara dos outros. Ele já deve ter repetido isso várias vezes, mas eu digo de novo porque a gente ouve mas não escuta. Faz a piada de loura, tudo bem porque loura não é raça nem credo, é uma cor de cabelo. Podemos rir da piada. Outra piada que ele faz, compara um negro a um macaco. Ri quem quer, paga o ingresso pro show dele quem quer, endossa a piada dele quem quer. Se ninguém achasse graça, ele ia procurar outra coisa pra fazer piada, mas ele disse uma coisa interessante. A defesa dele foi que, não sendo político, não sendo jornalista, não sendo filósofo, sociólogo, ele fala a merda que ele quiser, porque ele é comediante.
Gente, é verdade. Quem vai segurar o cara é a bilheteria. Eu não preciso me unir a nada pra acabar com ele. Se ele decidiu ser comediante, é premissa do trabalho dele fazer piadas das quais o público ria, ou então ele morre de fome. Assim como a premissa do padeiro é fazer um pão minimamente comível, senão a outra padaria acaba com ele.
Parece que eu mudei de assunto? Não. É que daqui a pouco vou completar quarenta verões, e realizei muitas coisas importantes pra mim na minha vida, mas não cheguei ainda no meu potencial de servir a sociedade. E não sei se quero, ainda, servir como xamã. Acho que não. Acho que eu comecei a ver tudo com olhos de velho, no sentido de pessoa cansada da vida.
Meio cedo, eu sei, de repente é uma fase. Tomara. Mas veja, eu vi a Dercy Gonçalves ser ela mesma. Vi Rita Lee, Renato Russo, Cazuza, Clodovil, Zé do Caixão, Hebe Camargo, Washington Olivetto, Sérgio Porto, Brizola que fosse. Para cada nome que eu cito, dez ou cem me fogem à memória. E por alguma razão, desde que eu escutei do REM a música It's the end of the world, eu comecei a ter esse sentimento mesmo: as coisas pararam de me ofender diretamente e passaram a me parecer alheias. Como se meu mundo, o que eu me preparei pra viver, tivesse simplesmente acabado, e eu fosse uma visita no mundo dos outros.
Vai daí, portanto, que não me sinto muito mais à vontade para o papel de xamã. Não tenho um molde para oferecer, uma linha para ajudar a manter. Antigamente eu prestava atenção nos carros com farol desnecessariamente aceso, e avisava aos motoristas, pra poder economizar um tiquinho de bateria do consumo geral, e com isso ajudar um nadinha o meio ambiente. Hoje, sinceramente, fico tentando imaginar pra que lado o mautorista vai virar, porque ninguém sabe o que é usar uma seta.
Então, aquele abraço, obrigado e desculpe, parei de me sentir capaz de ajudar. Pelo menos vou me retirar, honestamente, deste patamar da minha vida.

Mulan, o curta

Uma vez a gente ficou imaginando que desenho da Disney nos representava. Eu disse que ela com certeza era a Bela, porque adorava ler, ad...