sexta-feira, julho 10, 2009

It's me

Acordei quando ela fechou a porta do quarto. Usava um daqueles vestidos de baile de sempre, parece que a vida dela é uma contínua festa de quinze anos. Levantei, coloquei a camisa e meu macacão de sempre, e o boné. Passei rapidamente no banheiro da suíte, escovei os dentes rapidamente, a barba poderia esperar. O bigode estava ótimo em duas passadas de mão.
O rosto eu já nem olho mais. Travado naquela expressão de animado, os cirurgiões nunca se esforçaram para me dar controle das expressões de novo. Mal consigo piscar direito.
Mal saí do quarto, e esbarrei com aquele assistente nanico dela. O pior chapéu do mundo, e ele anda todo empertigado como se fosse alguém. Graças ao meu probleminha, ele ainda acha que adoro ver aquela cara lisa todo dia. Esse cara achou engraçado o dia em que elogiei a mãe dele na cama, vai entender. Deve ser gay.
– Tem algo pra mim? Perguntei, no meio do meu esgar sorridente. Claro que eu estava pensando em uma garrafa de rum; as minhas temporadas de boa vida com ela precisavam ser amenizadas também, e o preço para isso é alto.
O desgraçado do baixinho estendeu uma bandeja de metal lustroso, com tampa. Ah, miserável!
– Tenho, respondeu ele, naquela vozinha aguda. E levantou a tampa.
Eu já sabia o que era antes de ver. Cinco cogumelos verdes. Cinco malditos cogumelos verdes! Olhei pela janela, já sabendo o que ia ver.
Uma galera do século XV, com um sistema de hélices no lugar de velas, e sobre o convés a refém mais saltitante do mundo, completamente desimpedida, olhando de volta para mim. Ao seu lado, aquele imbecil de cabelo pintado, olhos grandes, com uma pata imunda calmamente descansando na altura dos quadris dela. Ele estava bem satisfeito e risonho, e ao contrário do que ele fez comigo, as expressões do rosto dele podem mudar.
Ela gritava alguma coisa, mas nem com todo o barulho que aquela impossibilidade aerodinâmica fazia, poderia ser interpretado como um pedido de ajuda. Nem mesmo um babuíno bêbado entenderia aqueles gritos como outra coisa que não uma risada histérica.
Quando a nave manobrava para me deixar com vista para a popa, percebi meu próprio irmão, Luigi, esfregando o convés, perto do leme. Me lançou um olhar de desprezo.
Mamma mia, eles nem estão disfarçando dessa vez!

terça-feira, julho 07, 2009

Dia comum...

Voltei de férias hoje, tô vendo de novo aqueles clientes com impressora HP vindo pra loja...
Entram de boca aberta, braços caídos, olham diretamente para nosso display de cartuchos HP e comentam, desconsolados:
– Ah, vocês não vendem cartuchos não, né?
Nossa resposta é um gesto, eu e o Teo, o cara que trabalha comigo. Olhamos demoradamente para a parede que ele estava olhando até ele recomeçar. É aí que vem a coreografia:
– Eu tenho aquela impressora (braços estendidos, como se mostrasse um tamanho de pizza), aaaaa (braços mostrando uma altura) que tem o vidro em cima (braços mostrando uma distância) e o papel sai por baixo (mãos na frente da barriga em vai e vem, como se limpasse mesa)... Sabe qual é não?
A gente batizou esse tipo de cliente (super comum) de dono de impressora Menudo. Lembra, aquela coreografia dos garotos que faziam "canta, dança, sem paraaaaar..."? Pois é, eles são iguaizinhos.
Caralho, é tão difícil assim saber o seu próprio cartucho? Você mora na mesma casa que a impressora, sua besta? Aí a gente concentra, respira fundo...
– O senhor não saberia o modelo do cartucho?
É o mesmo que perguntar se ele já bateu um tanque de roupa.
– Vocês trabalham com isso e não sabem me ajudar?
Trabalhamos com isso? Amigo, cartomancia é na loja 219. A gente vende pro senhor a peça que o senhor pedir, de informática. Um de nós estende um cartão.
– Se o senhor puder ir pra casa ver qual o cartucho que o senhor precisa...
... e ter uma epifania religiosa no meio do caminho e ir morar no mato ...
– ... a gente pode te dizer a disponibilidade, o valor, e para não dar mais trabalho para o senhor, podemos também fazer a entrega do item.
Sentindo que essa etapa foi descartada, ele olha ao redor pela loja (boca aberta de novo) e lembra:
– Eu tô precisando de um cabo RGB pra áudio...
São esses momentos que me fazem ateu. Por mais sacana que Deus fosse, ele não pode estar rindo disso ainda. Cabo de vídeo, gente, entendam, eles têm nome. HDMI, RCA, VGA (ou DB15), RGB, DVI, Coaxial... E acima de tudo, o cabo de vídeo geralmente continua servindo pra vídeo quando chega do outro lado! Eu sei que sou nerd, faço parte de alguma seita secreta e domino informações muito obscuras, mas cacete! Leia a porra do manual, caralhoo!
Mais algumas frases perdidas e a gente descobre o que que ele queria de verdade: um cabo HDMI -- HDMI pro telão 42 polegadas que acabara de comprar.
– Sessenta reaaaais? Isso tudo?
O cara gasta cinco mil reais (ou mais) numa tela imensa e acha caro sessenta reais de cabo!
Assim correu o dia.
Tenha um bom dia você.

Mulan, o curta

Uma vez a gente ficou imaginando que desenho da Disney nos representava. Eu disse que ela com certeza era a Bela, porque adorava ler, ad...