Na última vez que escrevi neste blog, estava me despedindo de Denise. Uma vida inteira pensando se poderíamos ficar juntos, e o tempo que tínhamos era pouco mais de quatro anos. Assim que ela faleceu, fui convidado pelo restante da família a me retirar da casa. A atitude era de que eu tinha dado câncer a ela. Fui embora, sim.
Me virei, não me orgulho mas sobrevivi, e de lá fui seguindo a vida. Minha cabeça sempre apontou para vários lados ao mesmo tempo, nunca é fácil organizar meus pensamentos e interesses. Um deles, sempre foi morar em São Paulo.
Teve lá essa eleição que Bolsonaro e Haddad disputaram, e enquanto isso acontecia eu fui desenvolvendo uma espécie de surto muito sério. Fui emagrecendo, mas num nível, numa velocidade, que parecia que eu era paciente terminal. Em dois meses meu peso caiu de 102 para 85kg. Eu tava dormindo de 2 a 4 horas por noite. Sobrevivia num cortiço fazendo fornada de pão vegano de banana, porque, né, claro, fui morar num cortiço sim, mas dentro de uma comunidade hippie.
Eu vivia num lugar chamado Ilha Primeira, que não é uma ilha, ao lado da Ilha da Gigóia, só pra te dar uma situada. Fica praticamente colado à saída "lagoa" do metrô Barra.
Catei minhas coisas, a saber, um celular velho, um notebook, duas malas de roupa e comprei a passagem pra São Paulo por aplicativo. Sobraram 50 reais no bolso e o sofá da sala de um grande amigo, mas o sofá por no máximo 2 semanas. Compreensível, ele tem família e não dá pra ficar ajudando vagabundo. Sou até hoje grato pela gentileza, foi crucial para minha permanência em São Paulo.
Achei o recurso de morar em hostel, em troca de trabalhar. Como as grades de hostel são em geral flexíveis e negociáveis, sempre que tinha um trabalho de ator conseguia conciliar as atividades. Morei em três hostel diferentes nesse sistema, o Hostelaria SP, Green Grass e Hostel OF, imagine só, fui morar rapidinho na Oscar Freire. Sucesso meteórico, rs.
É, agora eu dou risadas, rs.
Nesse meio tempo acabei entrando em um relacionamento. Tava doloroso demais depois do último, e a perda da Denise ainda antes disso ainda me assolava. Ainda estava muito magro, mas isso ajudava a carreira de ator.
Fui tentando manter minhas competências em dia, da maneira que pude. Criei alguns canais de youtube, como o MiniBios, LoFi Experiment, MandaNoticias, Quem te Perguntou? - nenhum vingou. Mas fiz. Criei o Mandaricks Podcast na Spotify, tá lá até agora, quatro temporadas.
A carreira de ator, posso dizer que deslanchou. Participei de vários curtas, alguns longas, clipes musicais, novelas, e muitos, muitos comerciais. Agora deu uma parada, porque voltei a engordar massivamente, e nem eu mesmo me contrataria. Tô com 117kg.
Faz dois anos e meio que me despedi da minha mãe pela última vez, e queria poder dizer em palavras como tá sendo difícil esse momento, mas não consigo. Sinto falta da mãe que queria ter, e até mesmo da mãe que tive. Sinto falta até das brigas com a família. Queria ser reconhecido por algum amigo dela. São tantos níveis de dor e perda que nem consigo ficar muito tempo olhando pra isso, dentro de mim.
Queria ter contado mais pormenores, mas com essa narrativa acho que já cobri minha vida até os 50 anos. Vamos ver o que mais eu consigo postar.
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