segunda-feira, dezembro 14, 2015
Saldão de final de ano trabalhado 2015
quarta-feira, setembro 23, 2015
Portal
Por algum tempo, eu fiz figuração e era apenas um figurante. Ok. Tô lá pra aprender. Tô lá pra somar meu nadica de nadinha, que seja às vezes nem ser filmado numa cena.
Mas uma coisa que aprendemos sobre nós é quando os outros são obrigados a dar uma opinião, qualquer que seja, sobre a gente. E eu rapidamente aprendi, quando um fiscal, maquiador, figurinista tem que perguntar "o que você vai ser hoje?", que na formulação de estúdio é ainda mais bacana, "o que você é?", que eu tenho que fazer uma pausa lenta e hesitante para responder. Ganho uma opinião na hora.
Não que eu não tenha reparado antes, claro, mas é engraçado desenvolver um método para ver que as pessoas levam mesmo tempo pra dar o chute delas. Porque na verdade eu não pareço ser, exatamente, nada.
O que é ótimo, eu sou um ator. Elas precisam ler meus maneirismos para ter ajuda.
Lembrei que eu já saí andando pela rua vestido de mago, e com meu gestual, um mendigo pediu bênção que de mago pra padre é mesmo um pulo. Já balbuciei em alemão e fui tratado como um automaticamente. Advogado que deu consultoria a sério num elevador. Já vendi foto fantasia apenas com mímica. Já fiz amigo meu ver coisa na escuridão que não estava lá, só pela minha narrativa.
Mas ultimamente uma coisa nova aconteceu. Com toda a gama de reações, boas e ruins, as pessoas ultimamente tem reparado outra coisa em mim.
Eu estou começando a parecer alguma coisa. Eu estou começando a me parecer comigo mesmo.
Parece que meu peito tá parindo uma estrela. Devagarzinho. E todo mundo consegue ver.
Longe de mim pensar, agora, se é isso aí mesmo, se eu vou chegar ao ponto de início da minha verdadeira jornada. Claro, né, que eu seja uma estrela, sonho com isso, quero muito e tô trabalhando que nem uma puta pra isso acontecer.
Mas tô bem feliz de perceber que agora eu sou dois mundos.
sexta-feira, julho 24, 2015
Doçura
Contra todas as expectativas, uma grande família se reunia na casa deles. Filhos não tiveram, mas o carinho agregou alguns parentes e aparentados ao longo do caminho, e uma inusitada fortuna atraiu outros ao longo do caminho. Dormiam na cama de casal, meio da noite que era, ela ainda pondo a mão sobre o coração dele. O mundo lá fora, girava.
Mas subitamente, ele abria os olhos, e uma lágrima brotou e escorreu. Não queria olhar para trás. Não queria interromper seu calor de aquecer o corpo dela. Depois de cinquenta anos, o primeiro mosquito picava a maçã de seu rosto.
E ele já sabia. Estava sozinho naquela cama, pela primeira vez.
domingo, janeiro 04, 2015
Atendimento Xamã - rescisão do cargo
É engraçado eu falando nisso, porque quem me conhece sabe muito bem que sou uma pessoa carente, chego inclusive a ser chato. Tenho crises de ansiedade cada vez maiores. Tenho os meus problemas e meus diálogos internos viram, muitas vezes, brigas louquérrimas. Mas até onde eu sei, a maioria dos psicólogos também tem essas dificuldades, e por causa delas, são melhores no que fazem. O pior psicólogo que conheci tinha consultório em Ipanema, e problema interno nenhum. Julgava os seus pacientes e a família deles. Dirigia as consultas como o Shermann dirige o Zorra Total e isso não é cura. Nada contra o cara da Globo não, mas ele não está lá pra curar porra nenhuma, certo? Meu ponto é esse.
Outra coisa interessante, tem algumas profissões que são, abnegadamente, servis. Você pode imaginar um cabeleireiro bem de vida, mas não a tal ponto que tenha um palácio. Um diretor de tv que tenha menos que um carro e um imóvel na Zona Sul do Rio, ou seu equivalente em outros estados, não faz sentido. São conceitos que a nossa sociedade nos oferece. Danili Gentilli, de quem não tenho tanta simpatia assim, outro dia desses lascou uma verdade na cara dos outros. Ele já deve ter repetido isso várias vezes, mas eu digo de novo porque a gente ouve mas não escuta. Faz a piada de loura, tudo bem porque loura não é raça nem credo, é uma cor de cabelo. Podemos rir da piada. Outra piada que ele faz, compara um negro a um macaco. Ri quem quer, paga o ingresso pro show dele quem quer, endossa a piada dele quem quer. Se ninguém achasse graça, ele ia procurar outra coisa pra fazer piada, mas ele disse uma coisa interessante. A defesa dele foi que, não sendo político, não sendo jornalista, não sendo filósofo, sociólogo, ele fala a merda que ele quiser, porque ele é comediante.
Gente, é verdade. Quem vai segurar o cara é a bilheteria. Eu não preciso me unir a nada pra acabar com ele. Se ele decidiu ser comediante, é premissa do trabalho dele fazer piadas das quais o público ria, ou então ele morre de fome. Assim como a premissa do padeiro é fazer um pão minimamente comível, senão a outra padaria acaba com ele.
Parece que eu mudei de assunto? Não. É que daqui a pouco vou completar quarenta verões, e realizei muitas coisas importantes pra mim na minha vida, mas não cheguei ainda no meu potencial de servir a sociedade. E não sei se quero, ainda, servir como xamã. Acho que não. Acho que eu comecei a ver tudo com olhos de velho, no sentido de pessoa cansada da vida.
Meio cedo, eu sei, de repente é uma fase. Tomara. Mas veja, eu vi a Dercy Gonçalves ser ela mesma. Vi Rita Lee, Renato Russo, Cazuza, Clodovil, Zé do Caixão, Hebe Camargo, Washington Olivetto, Sérgio Porto, Brizola que fosse. Para cada nome que eu cito, dez ou cem me fogem à memória. E por alguma razão, desde que eu escutei do REM a música It's the end of the world, eu comecei a ter esse sentimento mesmo: as coisas pararam de me ofender diretamente e passaram a me parecer alheias. Como se meu mundo, o que eu me preparei pra viver, tivesse simplesmente acabado, e eu fosse uma visita no mundo dos outros.
Vai daí, portanto, que não me sinto muito mais à vontade para o papel de xamã. Não tenho um molde para oferecer, uma linha para ajudar a manter. Antigamente eu prestava atenção nos carros com farol desnecessariamente aceso, e avisava aos motoristas, pra poder economizar um tiquinho de bateria do consumo geral, e com isso ajudar um nadinha o meio ambiente. Hoje, sinceramente, fico tentando imaginar pra que lado o mautorista vai virar, porque ninguém sabe o que é usar uma seta.
Então, aquele abraço, obrigado e desculpe, parei de me sentir capaz de ajudar. Pelo menos vou me retirar, honestamente, deste patamar da minha vida.
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