Passei mais ou menos os últimos três anos em grande ansiedade. Engordei, dormi mal, estraguei um joelho, tudo no medo de um porvir que, sinceramente, não tinha idéia do que seria. Ter essa pequena clarividência que eu tenho, assim como meu pai também tinha, é mais um problema do que uma solução. Eu choro términos de namoro e falecimentos meses, às vezes anos antes deles ocorrerem. Comemoro vitórias e presentes antes mesmo de existirem. E na hora em que a premonição vira presente, eu estou lá, de pé, para o que der e vier.
Chorei minha Oma aos dez, carreguei a alça do seu caixão aos treze. Chorei meu pai aos vinte e um, fui carregar seu caixão em Botafogo depois dos trinta, todos os amigos me encarando como se eu não tivesse direito de estar ali. Também não me pegou de surpresa, esse desacato, às vezes parece que eu sou enganado só porque dou mole.
Vi a partida da minha outra avó, a abusiva, enquanto encarava ela. Vi, e com outros dons que temos na família, mostrei o horror da partida. Ela viu, entrou em negação e só foi se lembrar daquilo no seu agonizante leito de morte. Falou meu nome um ano seguido, enquanto dores maiores que a morfina tomavam conta dela.
Eu não ligo se você vai achar esta postagem algo de fantástica. A vida, pela sua mais humilde biologia, já é uma miríade de deslumbramentos e contradições. Eu não preciso inventar que conheço um certo grau de telepatia, clarividência e alguma projeção astral. Muitas vezes, se eu jogar tarô pra você, vai valer a pena me ouvir. E tem dias, afinal, que nada disso dá certo. Fazer o quê?
Tem um tipo de verme que, ao morrer, emite uma luz azulada. Tem um outro bicho que é imortal, só fica renascendo. E tem um tipo especial de animal que acha que pode viver por meio de livros.
Acho que existe um mundo além desse vivenciado pelas leis da física. Não sei como ele funciona, mas sei que funciona. Pude sentir um plano delineado ao meu redor em várias escalas, em diversos momentos, por toda minha vida até aqui. Vi coisas acontecerem comigo e com outras pessoas que só acreditando num plano para que acontecessem desta ou daquela maneira.
Isso quer dizer que eu sou determinista? Não. Só pra começar, mesmo quando a gente vê uma situação, nunca sabemos em que estado de espírito entraremos naquele momento, com aquele acontecimento rolando. Só tenta se colocar na pele do herói de H.G. Wells, em A Máquina do Tempo: incapaz de consertar o passado, ele se condena a assistir inúmeras variações da morte da noiva, impreterivelmente no mesmo horário. No entanto, conforme suas tentativas vão fracassando, ele vai conseguindo, aos poucos, se distanciar da dor de perdê-la para poder finalmente seguir adiante em sua jornada. Ali naquela história, a morte estava determinada, não sabemos se por ter virado passado ou pela determinística; mas o herói, este muda a sua própria ótica para seguir adiante. Para ultrapassar aquele bloco emocional. E então, o restante da história pode acontecer.
Tudo isso só pra te dizer, de novo: você escolhe como vai entrar nos momentos. E isso muda tudo.
Mas voltando ao que estava tentando dizer no começo, a premonição que eu tive era: "Você vai perder tudo que hoje está ao seu redor". Há cerca de três anos.
Cara isso é terrível de se absorver. Mas tem exatamente o mesmo sentimento e efeito que tirar a carta da Morte num jogo de tarô: simplesmente não é nada do que você está pensando.
De fato, tudo que eu tinha ao redor acabou. Endereço, telefone, trabalho, relacionamentos. Tudo.
Hoje eu sou acordado com carinho, e pela mulher mais maravilhosa que eu conheci em toda a minha vida. E não é por me namorar, não. Acho que ela até tá se enrolando comigo. Ela é espetacular por ela mesma. E eu estou começando, finalmente, a sacar quem eu sou. Porque eu simplesmente não vivo mais no terror dos outros. Eu vivo nos meus terrores, e vivo cada um de peito aberto, pra rir um pouco, pra chorar um pouco, e quem sabe, às vezes até mesmo me apavorar. Por mim mesmo.
quinta-feira, dezembro 04, 2014
Reconsiderações
sexta-feira, outubro 03, 2014
Pequenos toques que podem fazer uma baita diferença (um dia) (no sonho)
۩ Voto branco e nulo só ajuda quem está interessado em se manter no poder. O mito de que tem como uma eleição ser re-feita se tantos nulos e/ou brancos forem atingidos é idiotice.
Referência do TSE sobre os votos brancos e nulos
۩ O voto-cacareco (votar no ridículo) é capitalizado pelos partidos hoje em dia. Tiririca, por exemplo, arrastou com ele mais três candidatos, a se saber:
- Otoniel Lima, PRB - Enviou dois projetos seus (de praticamente nenhuma relevância) e votou 58 outros projetos.
- Delegado Protógenes, PCdoB - Admito que não tenho patamar pra analisar este.
- Vanderlei Siraque, PT - Caiu na ficha suja do TSE, mas sabe como é.
Você se identifica com o Levy Fidélix? Vai fundo! Dá seu voto a ele! Mas por favor, não seja uma Maria Vai-com-as-outras só porque ele não tem chance.
quarta-feira, setembro 24, 2014
Carl Hart: Drogas não tornam pessoas em criminosos
O neurocientista Carl Hart esteve no Brasil em setembro de 2014 e teve menos atenção que o pontapé biomecânico do Nicolelis na abertura da Copa do Mundo da Fifa. Tive interesse em buscar este material, originalmente publicado na AlterNet, pela simples questão que acho conveniente demais que todos os políticos e repórteres seguem a mesma cartilha todo o tempo, e após décadas de violento debate, nem as respostas mudam, nem as abordagens. O povo vive no medo. Ainda por cima, o cara parece o Denzel Washington.O autor de "Um Preço Muito Alto" argumenta que as drogas viraram um bode expiatório fácil para problemas relacionados mais com pobreza e racismo.
Carl Hart acredita que o problema do crack é a pobreza |
Entrelaçada com sua própria história sobre as lutas entre famílias e comunidades estressadas pela falta de capital e poder sobre seus arredores, ele está desenvolvendo novas pesquisas sobre o uso de substâncias. Hart usa sua própria vida e trabalho para revelar que as drogas não são nem de perto tão perigosas quando se pensa. Por exemplo, muitas pessoas usuárias das drogas mais "viciantes" não desenvolvem necessariamente um problema. Aliás, drogas são responsabilizadas por muitos problemas relacionados à pobreza. As políticas que se resultam deste desentendimento são catastroficamente mal orientadas. Kristen Gynne, repórter do AlterNet, falou com Hart sobre sua vida e pesquisa.
Kristen Gynne: Pode nos mencionar algumas das falsas conclusões sobre drogas que você está enfrentando?
KG: Como a falta de pessoas de cor na academia, ou no processo de pesquisa, afeta nosso entendimento sobre as drogas?
KG: E como resultado eles não compreendem o próprio ambiente, ou tem outras variáveis que afetam as decisões e comportamento e erram o alvo?
KG: Você fala sobre as pessoas culparem as drogas, quando esses problemas são ativados pelo stress da pobreza. Tem alguns exemplos?
Agora, se você olhar para a história em comunidades pobres – minha comunidade, minha família – muito antes do crack entrar em cena, este tipo de coisa aconteceu na minha casa. Fomos criados pela minha avó. Minha mãe foi embora porque ela e meu pai se separaram. Ela foi atrás de melhores empregos e teve de sair do estado, mas não foi só ela. Este tipo de coisa, essa patologia atribuída às drogas, aconteceu com comunidades de imigrantes como os judeus da Europa Oriental quando vieram morar no Lower East Side, mas as pessoas simplesmente passaram a culpar as drogas nos anos 1980 e 1990.
Um outro exemplo é que, desde a era do crack, vários estudos descobriram que os efeitos do crack usado durante a gestação não cria uma epidemia de bebês-crack negros. Ao invés disso, crianças expostas ao crack durante a gravidez cresceram normalmente, e estudos descobriram repetidas vezes que diferenças entre elas e crianças não-expostas não podem ser isoladas dos efeitos sobre a saúde de se crescer pobre e sem um acesso a ambiente estável e plano hospitalar.
KG: E sobre a idéia que drogas podem tornar pessoas em criminosas?
KG: E sobre o vício? Algumas pessoas que consomem drogas não vão inevitavelmente se tornar dependentes?
KG Que tipo de fatores ambientais contam?
KG: Então se as drogas não são o problema, porque dizemos que são?
KG: O que na verdade é responsável pelos problemas comumente ligados às drogas?
KG: Em seus agradecimentos, você agradece ao Aid to Families with Dependent Children, que você chama de "bem estar como uma vez soubemos ter."
KG: Como o racismo institucional afeta a política? No seu livro, você mostra como o crack, que é farmacologicamente quase idêntico à cocaína, é punido com uma desproporção de sentenças de 18:1 (e já foi 100:1)* devido à linguagem de racismo codificado ligando a "escória do crack" ao mau comportamento em comunidades pobres e negras. Tem também um relatório recente da ACLU (American Civil Liberties Union, União das Liberdades Civis Americanas) que indica que os negros são em média quatro vezes mais presos por maconha do que brancos.
* Não sei se traduzi bem, o conceito dessa frase me foi inesperado: o texto quer dizer que, para cada ano de condenação por porte de cocaína, tem dezoito anos de sentença para crack em outros processos. Isso é uma meta de redução da disparidade, que já foi de cem anos no crack para cada ano na cocaína. Vale ressaltar que, culturalmente, a cocaína é considerada uma droga de alta sociedade, enquanto o crack é a versão "gueto".
KG: Como a metanfetamina mudou esse discurso?
KG: Em seu livro, parece que você sente alguma culpa por ter sido bem-sucedido, como se abandonasse a sua comunidade. Como sua vida mudou?
KG: Como você navega entre duas culturas diferentes?
KG: Como esse livro se remete à sua experiência na academia e na América negra?
KG: Como a política que reflete a realidade deveria ser, e como chegamos até ela?
Esta reportagem foi livremente traduzida por mim como um exercício. Não me arrogo de tradutor, assim como gostaria de ser consultado a respeito do uso desta postagem.
segunda-feira, junho 30, 2014
Na granja Comary, cresce a grama; Neymar dá sorrisinho de lado.
Hoje de manhã, o jardineiro foi interpelado pela nossa equipe para apresentar "pelo amor de Deus", segundo pediu nosso repórter, algum dado novo. Rindo, o funcionário comentou que a grama deve ter crescido.
Consultamos diversos cientistas, e o mundialmente famoso agrônomo Osvaldo Tranho comentou o lance.
– De fato, é bastante provável que a grama, desde que vocês perguntaram da última vez, tenha de fato ganho algum tamanho.
Ainda acrescentou à nossa reportagem que, caso necessário, o nosso prêmio Nobel da Agrotecnologia poderia calcular a taxa de crescimento para que tivéssemos novas notícias a dar para o público faminto por novidades.
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A nossa equipe também registrou que foram incendiados três ônibus próximo a alguma comunidade, e dessa vez decidimos culpar os traficantes porque a matéria dá menos trabalho.
quinta-feira, junho 19, 2014
Racionalizando
Engraçadinho ver todo mundo achando ruim que tem manifestação. Mas os dotô político morre de medo de passar vergonha na frente dos gringos. Os dotô impresário também. E eu acho fundamental termos um governo com medo do povo, ao invés de um povo com medo ou indiferente ao governo.
Se não dermos nosso manifesto agora, não damos nunca mais.
Esse papinho furado de que o voto é arma, isso não leva a nada. Como Banksy já repetiu, se voto valesse alguma coisa, seria pago. O que temos de fazer de novo é criar o MEDO em quem assumir um cargo daqui por diante. O cara tem que ter medo de sair de casa pra fazer campanha. E tem sair, porque não pode cagar o patrimônio público com galhardete e papel sonho.
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E vem cá, a Xuxa fica ganhando essa merreca toda de aliciadora de menores. O filme nem era pornô, era só uma merda malfeita mesmo, mas estava justamente mostrando como a inocência infantil é frágil. Tinha Tarcísio Meira, Vera Fischer e o escambau.
Quem tem que tomar esporro nessa história toda não eram os pais do garoto "corrompido" na cena do filme? Porque, junto com a Xuxa que só deu um beijinho, tinha mais dez peruas na cena em que ele é atacado. Todas pulam em cima dele, algumas mirando da cintura pra baixo, e não escuto o nome de nenhuma delas.
Qual é, galera?
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Tudo que você escolhe é importante.
Quando você fica com medo e valoriza um condomínio com grades, é a segurança pública que você repudia; quando você paga um plano de saúde achando que "sei lá, quem sabe, um dia" isso vai te salvar, é a saúde pública que você JÁ PAGA para ter que você repudia; quando você acha que 'menas' é mais, e não há 'poblema' em 'estrupar' o idioma número seis do mundo, é do professor que você ignora precisar. Quando o médico não te atende e ninguém lembra do Juramento de Hipócrates, antes de qualquer outra coisa, é a cultura geral e a inteligência social que você joga fora.
Eu vivo numa cidade em que olhamos feio um lixinho no chão. Queremos separar lixo mas não deixamos de separar as pessoas. Queremos que o outro deixe o nosso carro passar. Mas jamais pensamos que podemos não precisar do carro que temos.
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Entendamos, portanto, que um policial com arma na mão tem dolo em cada bala que dispara. Que um médico NUNCA pode omitir socorro. Que um advogado tem o dever cívico de defender toda a sociedade, inclusive de sua auto-indulgência, não apenas o microonibus da OAB andando no Centro.
Não precisam concordar comigo, mas eu acho que o artista perdeu o critério, a referência, a noção e a capacidade de criticar a sociedade, e este é o último crime de uma sequência de horrores.
terça-feira, maio 20, 2014
Troncha
Perdida ao meio da estrada lúgubre, pichada por canadenses assexuados, já nem sabes o que pretendias: causar? estragar? salvar?
Nada deu em nada para ti. Já soube, que eu vi no fundo de teus olhos e dentro da tua alma, já soube o que era aquele céu que de vez em quando babejas em teus toscos textos. Eu vi você lá, porque foi onde te coloquei incontáveis vezes. E quem mais fez isso?
Vais andar abraçada a teus murmúrios, com as macaquinhas de auditório a te fazerem coro, sem sequer entender que jamais poderão ser o que você foi, ou é. Vai, desclame-se. Aporrinhe-se. Perca-se.
Mas dá um jeito de devolver aquele laptop, ele é bom demais para ti, sua brega.
sexta-feira, janeiro 03, 2014
Física Quântica prova que a morte é uma ilusão
A morte é uma ilusão?
A maioria dos cientistas provavelmente dirão que o conceito de pós-vida é ou nonsense, ou no mínimo improvável.Ainda assim um expert afirma que tem evidências para confirmar a existência após o túmulo – e elas repousam na física quântica.
O professor Robert Lanza afirma que a teoria do biocentrismo ensina que a morte tal como a conhecemos é uma ilusão criada pela nossa consciência.
Professor Robert Lanza, acima, com sua teoria explicada no seu livro Biocentrism: How Life and Consciousness are the Keys to Understanding the True Nature of the Universe
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Lanza, da Escola de Medicina da Universidade de Wake Forest no Norte da Carolina, ainda explica que como humanos acreditamos na morte porque ‘fomos educados para acreditar’, ou mais especificamente, nossa consciência associa vida com corpos e nós sabemos que corpos morrem.
Sua teoria do biocentrismo, no entanto, explica que a morte pode não ser tão terminal como nós pensamos que é. Biocentrismo é considerada uma teoria para o todo e vem do grego para ‘vida no centro’. É a crença de que a vida e a biologia são centrais para a realidade e a vida cria o universo, não o contrário.
Isto sugere que a consciência de uma pessoa determina o formato e o tamanho dos objetos no universo. Lanza usa o exemplo de como percebemos o mundo ao nosso redor. Uma pessoa vê um céu azul, e é dito que a cor que estão vendo é o azul, mas as células no cérebro de cada pessoa podem fazer o céu ficar verde ou vermelho.
‘Resumindo: o que você vê pode não existir sem sua consciência’ explica Lanza. ‘Nossa consciência dá sentido ao mundo.’
A Teoria completa de Lanza pode ser lida em Biocentrism: How Life and Consciousness are the Keys to Understanding the True Nature of the Universe.COMO O EXPERIMENTO DA FENDA DUPLA SUPORTA A TEORIA DE LANZANo experimento, quando os cientistas observam uma partícula atravessar através de duas fendas em uma barreira, a partícula se comporta como uma bala e passa ou por uma, ou pela outra fenda.Quando uma pessoa não está observando a partícula, ela se comporta como uma onda.Isso significa que ela pode atravessar as duas fendas ao mesmo tempo. Isso demonstra que matéria e energia podem apresentar características tanto de onda como de partículas, e este comportamento de partícula muda baseado na percepção e consciência do observador.
----------------------------------------------- FIM DA TRADUÇÃO -------------------------------------------
Eu não consegui parar de me lembrar de um amigo meu, que resumiria esta matéria toda muito facilmente, exatamente por ser um surfista de corpo e de alma. Posso citá-lo em minha imaginação:
Cara a partícula fica lá fazendo o que você quer, mas se você não tomar conta, é que nem leite fervendo, maluco, ela fica de onda e pã.
Mulan, o curta
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Caminhar na rua. O sol, o tímido movimento dos domingos no Centro. Gatos andavam, desconfiados, devagar. E eu nesse passinho de malandro, me...
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