Ontem eu vi dois amigos meus, na mesma batalha que eu estou na busca pelo reconhecimento e quem sabe uma remota possibilidade de nos apresentarmos. Acho que vou montar uma palavra pra falar disso. Mas enfim, vi dois amigos e colegas na luta junto comigo, se darem bem. Pai e filho.
Fico feliz, quando isso acontece. Além de ver bem os amigos, pensando pragmaticamente, são menos pessoas na minha frente numa suposta fila que só existe na minha imaginação.
O garoto tava falando comigo que foi chamado pra festa de um dono de programa e, por si mesmo, não iria. Eu sei da história porque quem quase matou ele de falar pra ir fui eu. Ele foi, e muito bem-vindo por quem convidou, mas percebeu reações ao redor dele.
Naturalmente, ele estava incomodando. Toda estrutura artística, por paradoxal que seja, tende a se enrijecer ao redor de um talento. Se chama "não matar a galinha dos ovos de ouro". Deveria ser justamente a estrutura mais flexível do mundo, mas genialidade artística junto com liderança não dá em árvore, e quando isso vem embalado num lindo berço de ouro...
Quem acha essa fonte não quer que ela se esgote, certo?
Pois é. Então, meu amigo, sendo um agente de mudança em potencial de conseguir a chance de se apresentar, é a ameaça mais letal a esse modo de vida.
Na mesma hora, expliquei o óbvio: quem tem chance, incomoda. Porque todo mundo se sente ameaçado por um talento. Veja o caso do Uber.
Óbvio, haha, eu disse, haha, pra quem está de fora. Pro cara que aguentou aqueles olhares psicóticos uma noite toda, não é assim. Parece um pesadelo. É horrível. Pense em todos os caras malas que adoram berrar argumentos e não ouvir nenhum. Flamenguistas, ecochatos, feminazis, bolsomitos... todos. Todos eles. A única coisa que faz eles pararem de se engolir entre si, e traçarem um objetivo comum, é a presença de um talento.
Eu levei décadas pra aprender isso. Vi os que se apresentam de frente, e os que atuam por baixo dos panos, com sorrisinhos simpáticos. Vi as bem-intencionadas, que sempre acharam melhor eu "mudar isso aí" porque não dá dinheiro ter uma vocação. Melhor passar num concurso. Se proteger. Vi e perdi amigos que saíram correndo pro mais longe que puderam, quando sentiram que o mundo encara de volta. Que nunca entenderão que ficar de pé, sem recuar, é minha última chance de provar quem eu sou.
Vi muito mais que isso, e aprendi duas coisas:
Esses dois entendimentos significam que,Fico feliz, quando isso acontece. Além de ver bem os amigos, pensando pragmaticamente, são menos pessoas na minha frente numa suposta fila que só existe na minha imaginação.
O garoto tava falando comigo que foi chamado pra festa de um dono de programa e, por si mesmo, não iria. Eu sei da história porque quem quase matou ele de falar pra ir fui eu. Ele foi, e muito bem-vindo por quem convidou, mas percebeu reações ao redor dele.
Naturalmente, ele estava incomodando. Toda estrutura artística, por paradoxal que seja, tende a se enrijecer ao redor de um talento. Se chama "não matar a galinha dos ovos de ouro". Deveria ser justamente a estrutura mais flexível do mundo, mas genialidade artística junto com liderança não dá em árvore, e quando isso vem embalado num lindo berço de ouro...
Quem acha essa fonte não quer que ela se esgote, certo?
Pois é. Então, meu amigo, sendo um agente de mudança em potencial de conseguir a chance de se apresentar, é a ameaça mais letal a esse modo de vida.
Na mesma hora, expliquei o óbvio: quem tem chance, incomoda. Porque todo mundo se sente ameaçado por um talento. Veja o caso do Uber.
Óbvio, haha, eu disse, haha, pra quem está de fora. Pro cara que aguentou aqueles olhares psicóticos uma noite toda, não é assim. Parece um pesadelo. É horrível. Pense em todos os caras malas que adoram berrar argumentos e não ouvir nenhum. Flamenguistas, ecochatos, feminazis, bolsomitos... todos. Todos eles. A única coisa que faz eles pararem de se engolir entre si, e traçarem um objetivo comum, é a presença de um talento.
Eu levei décadas pra aprender isso. Vi os que se apresentam de frente, e os que atuam por baixo dos panos, com sorrisinhos simpáticos. Vi as bem-intencionadas, que sempre acharam melhor eu "mudar isso aí" porque não dá dinheiro ter uma vocação. Melhor passar num concurso. Se proteger. Vi e perdi amigos que saíram correndo pro mais longe que puderam, quando sentiram que o mundo encara de volta. Que nunca entenderão que ficar de pé, sem recuar, é minha última chance de provar quem eu sou.
Vi muito mais que isso, e aprendi duas coisas:
- O mundo não, não formou um clubinho pra te destruir.
A coisa funciona num nível mais biológico do que consciente. Tipo uma manada que corre porque alguém no meio correu. - O tempo é curto. Aprenda o que puder com os outros. Não se amargure. Corra.
Não temos, na verdade, o tempo necessário pra nos apresentarmos e explicar que também temos nosso lugar ao sol, que pode ser melhor pra mais gente se nos deixarem em paz...
Atropele antes que seja atropelado.
------ oOo ------
Vim pra casa, gripadão porque eu somatizo mesmo, dormi assim que pude e sonhei. Um dos poucos sonhos que me lembro.
Tava eu e esses dois caras, e mais o outro da minha turminha de vanguarda, sendo conduzido pelos corredores daquele intestino de concreto imenso, da maneira habitual que os figurantes são conduzidos: aos berros, ordens e contraordens, como eu já vi várias vezes ser feito em alemão nos filmes da Segunda Guerra.
Como acontece muito nos sonhos (e nos games mais incríveis), rola uma desconstrução num dado momento, em que a esquerda e a direita parecem ser a mesma coisa, e começamos a descer onde lá, na realidade, sabemos não haverem escadas pra baixo.
Fomos largados numa sala, ao mesmo tempo lotada e vazia, mas com uma coisa permanente no meio, que também permanentemente sumia, iluminada e escura, com janela e parecendo um cubículo, tudo ao mesmo tempo. É como se o que mudasse fosse a minha percepção sob as condições ao redor, enquanto a sala era simplesmente, todas as possibilidades de sala.
Esse mesmo garoto da conversa acima, vira-se pra mim magoado e diz: porque nos largaram aqui?
Ao que um cara de muitas caras, mas com o mesmo crachá explica, diretamente pra mim (mas sem nenhuma coerência com a pergunta dele):
– Esse objeto no meio da sala é a lona de proteção. Nenhum ator permite-se, ou à sua família, sequer olhar pra isso. Ela fica abaixo de onde a gente vive (e nesse caso tive certeza que não eram andares)
– Esse objeto no meio da sala é a lona de proteção. Nenhum ator permite-se, ou à sua família, sequer olhar pra isso. Ela fica abaixo de onde a gente vive (e nesse caso tive certeza que não eram andares)
Num lampejo eu entendi; seguro o ombro dos dois e explico, "nos deixaram diante da Entropia do Universo. Onde o Nada mora. A Borda Enlouquecedora da Realidade."
(É, dá Castañeda e Lovecraft pro pisciano ler, dá...)
Os dois viraram-se pra mim (e de alguma forma o outro vanguardinha também), amuados. Dava pra ver que no rosto deles o desapontamento tomava conta. "O que faremos? Nos largaram de lado. Nos abandonaram".
Eu ri, e disse, "voltem com a melhor piada da Realidade". Eles contemplaram a Entropia mais um pouco, a Lona de Proteção, e viraram-se para a porta atrás de mim. Não precisavam mais ser guiados.
– Você não vem, alguém atrás de mim perguntou. Eu encarava fixamente o objeto enrolado no meio da sala, que mudava de contorno, de cor, tamanho, intenção, peso, existência...
– Não. Tenho que conversar com um velho amigo.
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